Quando pensamos na Antropologia e sua relação com o Direito, uma imagem distante da realidade prática surge, principalmente para quem está se aprofundando no mundo jurídico, com audiências, clientes, e, claro, a eterna corrida pelo sucesso e reconhecimento dos sócios do seu escritório. Então, para que serve saber sobre culturas, sociedades, comportamentos humanos nessa rotina insana da advocacia?

O que muitos não sabem é que ignorar esses saberes “não jurídicos" é colocar a cabeça na forca, porque a Antropologia se mostrou uma ferramenta sensacional para compreender não só os seus clientes, bem como o próprio papel do advogado na sociedade. 

Primeiro de tudo, a Antropologia estuda o ser humano e suas complexidades, tais como sua forma de se portar, seus pensamentos e toda a sua racionalidade. E entender o ser humano é chave para qualquer advogado que se preze. Como o próprio professor e co-fundador do Instituto de Ciências Jurídicas, José Roberto Mello Porto, traz, o Direito não é só sobre leis, processos e argumentos. É sobre gente. Gente que tem medo, que tem esperança, que tem dúvidas e inseguranças. Quando os acadêmicos e pós-graduandos passam a mergulhar na Antropologia Jurídica, eles começam a ver o cliente com outros olhos. Isso é ouro: aprender a gerir não só o caso, mas a relação com quem contratou o seu serviço.

Todo cliente que chega no escritório traz um conflito e os advogados, assim como médicos, precisam do kit de emergência para gerir esses conflitos, entender as expectativas desalinhadas, e buscar soluções que, muitas vezes, vão além do jurídico puro e simples. A Antropologia permite, além disso, compreender até a maneira como lidar com as condutas, seja no penal, no civil, em qualquer área, pois ela tem raízes nessa compreensão profunda do ser humano. Saber por que as pessoas agem como agem, o que é considerado uma conduta aceitável ou não, isso é antropologia pura sendo aplicada no dia a dia do Direito.

Resumindo, entender a importância da Antropologia é uma vantagem competitiva enorme para o advogado. Isso porque, mais do que nunca, o que diferencia um bom profissional é a capacidade de entender e se conectar com as pessoas de verdade, com demonstração de interesse. É saber que, por trás de cada processo, contrato ou audiência tem uma história humana rolando.

Por isso, longe de ser aquela matéria "filosófica demais" que muitos pensam ainda na faculdade, esse estudo se revela um dos pilares para uma advocacia mais humana, eficaz, e (por que não?) mais satisfatória. 

No fim das contas, a advocacia está lidando com pessoas, e quanto melhor a gente entender a complexidade do ser humano, melhor vamos ser não só como advogados, mas como cidadãos mesmo. Afinal, o que é o Direito senão um conjunto de regras para organizar a convivência humana, cheia de desejos e conflitos?